18 de outubro de 2008

Porque hoje é dia de clássico

Há um tempo, descolado de nosso tempo real, em que coisas estranhas acontecem. É nesse lugar que acontecem os clássicos, em um tempo anterior a fronteiras.

Um jogo é clássico quando opõe, frente a frente, dois times que alcançaram o direito de pertencer a esse tempo especial: somou vitórias em demasia, acrescentou títulos à sua galeria, viu desfilar jogadores que pertencem ao imaginário dos torcedores.

Um clássico não dura apenas durante os 90 minutos da partida. É por essa razão, também, que ele se define como clássico. Dias antes do jogo os torcedores se preparam, árbitros se concentram mais que o normal; jogadores experientes suam frio, atletas sem experiência perdem o fôlego.

Durante o jogo, todos percebem que estão diante de um clássico. Pois o time que fazia má campanha de repente se agiganta, e a equipe que disparara na frente súbito tropeça.

Um clássico não termina com o apito final. Ele continua nas discussões acaloradas, em que todos têm razão, e a verdade pertence a cada torcedor, sem distinção de vitória ou derrota.

Um clássico, aliás, iguala vencedores e vencidos, pois todos sabem que, à espreita, está a sombra do próximo clássico, em que o resultado adverso pode ser vingado por um outro, favorável, e vice-versa.

O crítico Paulo Emílio Sales Gomes dizia que o cinema deu cidadania poética a todas as outras artes. Pode-se dizer, também, que os clássicos conferem cidadania poética a todos os jogos. Eles reúnem, ao mesmo tempo, a apreensão da derrota iminente e o estrondo do gol, deuses demasiado humanos e homens por um instante deuses.


Fabrício Marques é jornalista e doutor em Literatura

Um comentário:

  1. Clássico é dia de clássico né!!!!
    Principalmente quando o melhor time de Minas sempre vence!!!!
    dali Cruzeiro!!!
    Você tem a o dom heim Fabrício, parabéns pela crônica!

    Jacqueline - Uni-BH

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