15 de setembro de 2008

Vontade de vencedor

Certa vez o treinador Tite disse que o futebol tem quatro planos com os quais um comandante tem de se preocupar: técnico, tático, físico e emocional. Num Brasileirão pobre tecnicamente e numa época em que tática e preparação física estão niveladas, parece que a chave para se dar bem é o coração.

Isso explica ontem a vitória do Palmeiras sobre o Cruzeiro. Luxemburgo é um técnico que sabe mexer com os brios dos jogadores. Além de montar times com qualidade técnica e disciplina tática – ontem travou o adversário com seis jogadores no meio e um atacante isolado –, faz com que seus atletas joguem com vontade de vencer.

A mesma vontade não teve o Cruzeiro. Time por time, acho o da Toca muito melhor, dono do mais criativo meio-de-campo do campeonato. 46 mil torcedores no Mineirão viram a Raposa finalizar muito mais, mas tiveram de se conformar em levar para casa uma derrota que talvez tenha sido a despedida para o sonho do bi.

Faltou coração ao time celeste. Foi um jogo entre o mestre Luxemburgo e o discípulo Adílson. O mestre não ensina o pulo do gato: mexer na alma. Talvez falte ao Cruzeiro a alma de campeão. Como acreditar que, com um jogador a menos, o Palestra tenha conseguido resistir ao volume de jogo do Cruzeiro no segundo tempo?

Falta de coração é também um problema grande para o Atlético. É o que mais martiriza sua sofrida torcida. A falta de brio. Claro que, além disso, o time também é ruim tecnicamente. Marques e Petkovic pertencem ao passado. Taticamente, é um time sem cara. Não há nada no Atlético de hoje que remeta à tradição de sua camisa, cantada pelo seu hino, personalizada por sua torcida.

Quem apostou em Marcelo Oliveira no comando do time imaginava que ele fosse capaz de dar coração ao alvinegro, promovendo jovens identificados com o clube, coordenados por alguma experiência em campo e empurrados pela massa. Não tem dado certo.

O Cruzeiro ainda pode achar o caminho do coração. O Galo deixou o coração com a torcida. Para o time da Toca, há esperança. Para o time centenário, a esperança é que o ano acabe sem maiores humilhações e que uma renovação varra do cenário as figuras patéticas que a massa observa angustiada entre Lourdes e Vespasiano.

Alexandre Freire escreve às segundas-feiras.

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