18 de setembro de 2008

Tempestade lava o centenário

A tempestade de granizo que caiu ontem sobre a capital com força destruidora, vista de hoje, parece ter sido um presságio para as hostes atleticanas. Os ventos que fizeram desabar do céu montanhas de gelo também varreram a sede do Atlético. Ao olharmos de novo, Ziza já não está mais lá. Um processo de mudança está em curso.

Inevitável lembrarmo-nos de Roberto Drummond e da imagem poética da camisa alvinegra no varal açoitada pela tempestade. Desta vez, o atleticano parece ter torcido pela tempestade. Não que o poeta-escritor estivesse errado. A tempestade, que em outros tempos representava o inimigo, hoje, dialeticamente, é um aliado. Os inimigos espertamente mudaram de lado, instalando-se atrás das linhas onde combatentes atleticanos firmaram trincheiras. E com isso ameaçavam um patrimônio simbólico centenário.

Não é qualquer instituição que faz cem anos. Não é qualquer clube que se torna instituição. Muitos – e muito bem sucedidos – são apenas empresas. São fruto de uma época em que a racionalidade que manda é a econômica.

O Atlético – ainda que precise, tenha e deva se modernizar, se tornar administrativamente mais transparente – é fundamentalmente poesia, tradição, paixão, história. Não há como explicar isto. É algo da ordem da cultura – algo de que sabem torcedores do Flamengo, do Corinthians, do Boca.

Bem-vinda a tempestade. A destruição eventualmente pode deixar um rastro de beleza – como atestou a chuva de granizo ontem. As camisas alvinegras que estavam no varal tombaram valentes. Outras hoje, depois da notícia da renúncia do Ziza, tomaram de assalto as ruas da capital. Representam a esperança por novos tempos. Como a paixão pelo Galo forte vingador, que renasce a cada dia há cem anos.

Alexandre Freire

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