3 de novembro de 2008

A hora da arte

Com a parte de cima da tabela de classificação do Campeonato Brasileiro embolada, parece que a decisão do título vai ficar com algum capricho da bola. É a hora da arte da bola. É o momento de saber que arte São Paulo, Palmeiras, Grêmio, Cruzeiro e Flamengo são capazes de produzir.

Até aqui, os cinco contendores foram nivelados pela fórmula do Brasileirão. A virtude do campeonato de pontos corridos é justamente essa: privilegiar quem tem mais capacidade técnica, o melhor estrategista no comando, a preparação física mais consistente, o elenco com melhor reposição, saúde financeira. Mas a razão se esgota aqui.

Pouco importa que, dentro dessa lógica, haja uma correlação entre organização, de um lado, e rendimento dentro das quatro linhas, de outro. A fórmula se esgotou na diferença de cinco pontos que separam São Paulo de Flamengo. Com cinco rodadas faltando, agora chegou a vez da arte.

Arte, como sabemos, é algo que escapa a uma definição fácil. No futebol, significa um monte de coisas que não são controladas pelos “professores”, não são afetadas pelo apito, não respondem à racionalidade econômica. A arte não útil, não tem compromisso com planejamentos, não está no resultado de um cálculo.

Chegou a hora do talento, do gênio, da mágica que a razão iluminista cismou de querer espantar. Em vão. Nas cinco rodadas que separam um desses cinco clubes do título, de nada valem as análises enfadonhas de comentaristas, a fria lógica da estatística, a disciplina dos sistemas táticos.

A bola vai rolar livre de todos os determinismos que salvam o futebol de ser aprisionado pela lógica boquirrota que nada tem a ver com a arte. A esfera percorrerá espaços movida tão-somente pelos caprichos que fazem do futebol uma arte que resiste ao negócio, ao poder, ao controle. Está na hora de técnicos, jogadores e mídia se curvarem aos caprichos da bola e aos belos absurdos da poesia. Ainda bem.

Alexandre Freire escreve às segundas-feiras

Um comentário:

  1. Concordo, mas meu favorito é o que tem menos arte... São Paulo.

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