O Campeonato Brasileiro de 2008 sepultou de vez o choro das viúvas do mata-mata, que ainda pregam que um competição por pontos corridos não tem a mesma emoção dos "playoffs". O Brasileirão chegou à última rodada com todas as lutas possíveis: por título, vaga na Copa Libertadores e briga contra a queda, o que dificilmente acontece nos principais certames europeus. Até a concorrência pela artilharia foi acirrada, com Kerrison, do Coritiba, Kleber Pereira, do Santos, e Washignton, do Fluminense, travando uma batalha à parte. Ou seja, o campeonato manteve o interesse do torcedor até o último apito final.
O caneco merecidamente foi parar nas mãos do São Paulo, que errou menos que os outros postulantes ao título. O time paulista só não faturou o campeonato com mais antecedência porque custou a "entrar" no Brasileiro, curtindo a ressaca da eliminação na Libertadores por muito tempo.
Aliás, os outros grandes times brasileiros precisam ficar atentos para que o tricolor do Morumbi não se transforme numa espécie de Real Madrid tupiniquim e passe a papar quase todos os Brasileiros daqui em diante.
Como o São Paulo é disparadamente o time mais organizado do futebol nacional, isso não é impossível de se imaginar. O maior mérito da equipe paulista é repor os jogadores que perde para o futebol exterior com habilidade. E, é claro, a manutenção do treinador Muricy Ramalho foi fundamental para o tricampeonato.
Por falar em manutenção, o São Paulo joga com três bons zagueiros, independentemente de quem sejam, desde 2005. Sem querer dar razão aos retranqueiros, o maior campeão do Brasil se faz a partir de uma defesa sólida. É só reparar que, mesmo nas derrotas, dificilmente a equipe tricolor leva mais de dois gols.
Com relação aos classificados para a Copa Libertadores, Cruzeiro e Palmeiras já eram favoritos para as vagas antes do início do Brasileiro. A vaga para o torneio internacional consola um pouco a perda do título. A boa surpresa do Brasileiro foi o Grêmio, que chegou ao vice-campeonato sem grandes jogadores, mas com um time compacto e bem armado.
Quanto à Copa Sul-Almericana, talvez ela passe a ser mais valorizada pelos times brasileiros após a conquista do Inter. Mas por enquanto, ainda é uma insossa compensação para quem não conseguiu chegar à mais importante competição continental. Cabe também à Conmebol dar mais importância ao torneio, conferido mais vagas na Libertadores para os primeiros colocados e aumentando as cifras da premiação ao campeão.
Já sobre o rebaixamento, o maior destaque é mais uma queda de time grande. O Vasco vai visitar pela primeira vez a segunda divisão, conservando um rodízio de quedas das equipes tradicionais nos últimos anos. Ironicamente, tendo na presidência o maior ídolo de sua história: Roberto Dinamite.
No entanto, há de se frisar que o principal responsável pela queda vascaína ainda é Eurico Miranda, que arruinou o time cruzmaltino nas últimas temporadas. Como principais lições, o Nacional de dois mil e oito deixa claro mais uma vez que organização leva a títulos e que tradição sozinha não impede vexames como o do Vasco. Basta lembrar que Fluminense e Santos escaparam da degola por pouca coisa.
Perspectivas para o ano que vem. O Cruzeiro precisa contratar uns quatro reforços, se quiser vencer a Libertadores. É necessário um velocista no ataque, um bom zagueiro, um lateral-direito, pois Marquinhos Paraná rende melhor no meio. E um lateral-esquerdo, se Jadílson sair mesmo, pois Sorín é uma incógnita. E, é claro, repor à altura o elenco após as saídas inevitáveis de jogadores para o exterior. Além disso, o time precisa ser mais ousado fora de casa. Na prática, só ganhou duas partidas importantes e decisivas fora de seus domínios em todo o ano: contra Cerro Porteño e Fluminense.
Quanto ao Atlético, Alexandre Kalil vai ter de tirar alguns coelhos da cartola. Vai ter de contratar meio time para tornar o Galo mais competitivo e manter atletas importantes como Renan Oliveira, Leandro Almeida e Serginho. Como é sabido que o clube não tem dinheiro para grandes contratações, o dirigente alvinegro vai ter de lançar mão de certa criatividade. Mas mesmo sem grana, é possível montar elencos honrosos, como fizeram Coritiba e Vitória, que não lutaram pelo título, mas sempre se mantiveram longe da zona de rebaixamento, desde o início do Brasileirão.
Flávio Henrique Silveira trabalhou seis anos na editoria de "O Tempo" como repórter e redator. Atualmente é produtor executivo da rádio Inconfidência, onde trabalha com e sobre a música popular brasileira. No entanto, o futebol ainda corre em seu sangue.
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