17 de junho de 2009

A síndrome do cavalo paraguaio


Desde que o Brasileirão passou a ser disputado por pontos corridos, em 2003, um animal costuma perseguir os torcedores: o cavalo paraguaio. Na era das decisões a conta-gotas, vários times tiveram a oportunidade de ocupar o primeiro posto na tabela, mas as particularidades de uma competição com praticamente oito meses de duração são cruéis. De 2003 para cá, o maior campeonato do país teve líderes como o Goiás, Juventude, Figueirense, Paraná, Ponte Preta e Criciúma. Desses, só o Goiás não foi parar na Série B.

O público está acostumado com a atual fórmula de disputa e entendeu que o primeiro jogo vale tanto quanto o último. Por isso, os times que valorizam as rodadas iniciais tem uma excelente chance de acumular “gordura”. Após a disputa de 18 pontos, o Atlético lidera o torneio, levando vantagem no saldo de gols sobre o Internacional, que também acumula 14 pontos. E agora, os atleticanos fazem a pergunta: o time pode repetir o feito de 71 e buscar o bicampeonato?

Para alcançar a façanha, o Galo luta contra uma estatística desfavorável: jamais, no Brasileirão de pontos corridos, o líder na sexta rodada terminou com o caneco. Em 2003, o Internacional liderava nessa altura, preparando o terreno para o Cruzeiro ser campeão. Um ano depois, foi a vez de o São Paulo segurar a taça para o Santos. Em 2005, o Juventude era o melhor time após seis rodadas, e o Santos foi o campeão. Nos últimos três anos, coube a Cruzeiro, Botafogo e Flamengo ocupar o primeiro lugar na sexta rodada, enquanto o São Paulo acumulava forças para comemorar o tri.

O campeonato de pontos corridos é justo. Para ser regular em 38 partidas, é preciso fôlego e planejamento. Assim, a preparação física precisa trabalhar para que os jogadores agüentem correr o ano inteiro e não tenham lesões típicas de desgaste por excesso de partidas. O planejamento, por sua vez, possui desdobramentos. É preciso manter o treinador, independente de maus resultados (qual campeão desde 2003 teve dois, três ou mais técnicos no banco de reserva? Nenhum). E um elenco enxuto, mas de qualidade.

Voltemos ao Atlético. Diego Tardelli é um dos pilares da equipe. É natural que seja suspenso ou que tenha pequenas contusões em 38 partidas. Com as mesas características, quem entra? Alessandro, por exemplo, já rodou um punhado de clubes e não se firmou em nenhum. Pedro Paulo, Kléber e Júlio César ainda não são realidade. E se a tragédia for maior: Éder Luís e Tardelli fora ao mesmo tempo? As chances de prejuízo aumentam.

Na lateral esquerda, uma outra situação complicadíssima. Thiago Feltri e Júnior são os únicos nomes para a posição. Na vitória sobre o Náutico, Feltri foi expulso e terá de cumprir suspensão. Júnior, aos 35 anos, está fazendo o caminho de muitos laterais, que é ir para o meio-campo e recebeu o terceiro amarelo. Se prevalecer a lógica, o jovem Chiquinho terá a difícil missão de resolver o problema contra o Santos. Na prática, portanto, uma situação de risco para o atleta que poderá prejudicar a si e ao time caso tenha uma atuação ruim na Vila Belmiro. Sem elenco, não dá para imaginar voos mais altos.

Se as seis rodadas iniciais expõem algumas fragilidades da equipe alvinegra, demonstram também que a torcida está com o time. Com mais de 40 mil pessoas no Mineirão, apaixonadas e gritando o tempo inteiro, dá para acreditar que é possível superar deficiências técnicas, buracos no planejamento e até mesmo a síndrome de cavalo paraguaio.


Pedro Blank é jornalista.

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