26 de maio de 2009
Ramires vai. As chances de conquista ficam?
E o caminho trilhado por Ramires não foge ao roteiro. O meia do Cruzeiro é mais um dos tantos jogadores que vêem no mercado europeu uma oportunidade de alavancar a carreira. Neste caso, dois clubes disputavam o passe do jogador, o CSKA de Moscou, do técnico Zico, e o clube português Benfica. Na última quinta-feira (21/05), a diretoria cruzeirense fechou com o Benfica e empresários a venda do jogador por 7,5 milhões de euros (mais de 22 milhões de reais).
Ganha Ramires, que vai para o futebol europeu, uma vontade do jogador sendo realizada. “Quero vencer na vida, quero jogar na Europa”, frase dita pelo volante cruzeirense ao site do Globo Esportes. Ganha o clube português com a aquisição de um importante jogador. Ganha o clube mineiro, que com a quantia recebida poderá honrar compromissos.
Mas perde a torcida celeste, que não vibra com os milhões que entram no caixa, mas sim com vitórias e títulos. E a falta de Ramires com certeza será sentida, principalmente agora, na reta final da Copa Libertadores.
O volante fez uma bela campanha no time celeste. Uma trajetória que rendeu 27 gols em 106 jogos, dois títulos mineiros, e a convocação para a seleção do técnico Dunga. Um sonho antigo, mas que nem precisou jogar no exterior para ser concretizado. Ramires ao se destacar na equipe do Cruzeiro, no Estadual e na Copa Libertadores, nesta temporada, já enchia os olhos de boleiros e grandes comentaristas do país. E na última convocação foi reconhecido o esforço do jovem jogador, que disputará as Eliminatórias Sulamericanas da Copa do Mundo, contra Uruguai (dia 6/06), em Montevidéu, e Paraguai (dia 10/06), no Recife, e a Copa das Confederações, na África do Sul, pela Seleção Brasileira.
Agora, só resta à nação celeste ficar na torcida para o time se classificar para as semifinais da Libertadores e ver mais uma atuação do Ramires pelo time, como ficou acertado com o clube português. De qualquer forma, vale a torcida pelo jogador e que ele trilhe o caminho dos louros. E quem sabe um dia ele não se inspire em fenômenos e imperadores e volte a jogar em terras tupiniquins?
Iane Chaves é jornalista
24 de maio de 2009
Vitória com brilho na ilha de "Lost"
A arrancada de Éder Luis aos cinco minutos de jogo, no gol mais bonito da rodada, parecia anunciar uma goleada, cenário reforçado por outro gol do mesmo atacante cinco minutos depois e, antes do final da primeira etapa, pelo belo chute de Márcio Araújo, fazendo 3 a zero.
Se o segundo tempo acordou o Leão, que chegou a ameaçar a vitória alvinegra, o fato é que foram três pontos na casa de um adversário difícil, com direito a quebra de tabu e um salto para a zona da Libertadores.
Está cedo para a massa atleticana sofrer uma recaída em seus arroubos de entusiasmo, mas já há motivos para esperar que o Galo faça sua melhor temporada no Brasileirão na era de pontos corridos. Sob o comando de Celso Roth, um técnico que sabe tirar das equipes que treina disciplina tática, o Atlético está achando o caminho da regularidade.
O ataque continua bem, o meio-de-campo, ainda que se ressentindo do escasso camisa 10, tem se mostrado mais compacto, com sóbrias atuações de Renan, e a defesa está dando conta do recado, pari passu com o crescimento de Welton Felipe.
Se os claros favoritos a ocupar as posições de cima da tabela são os que já sabemos: Internacional, Cruzeiro e São Paulo, pela qualidade de seus elencos, com equipes como Corínthians e Flamengo correndo por fora, a transferência de jogadores para o exterior deve favorecer que estiver bem-posicionado no segundo escalão, na primeira página da tabela.
É muito cedo para prognósticos mais consistentes. Mas ganhar do Leão na ilha de "Lost" deixa a torcida alvinegra, que há tanto sonha com dias melhores, ansiosa pelos próximos episódios do Brasileirão. Vai mostrar isso no próximo sábado, quando o Galo pega o Santo André no Mineirão.
Alexandre Freire
21 de maio de 2009
Quando a realidade é mais bela que a ficção
No primeiro tempo, Juan atrasa mal uma bola e proporciona o gol de Taison.
Até os 29 minutos do segundo tempo, o Internacional estava classificado.
O Flamengo fez um gol e passou a ser o vitorioso.
E aos 44 minutos, os gaúchos desempatam e despacham o rubro-negro.
O atacante Emerson, do Flamengo, substituiu Zé Roberto e fez gol. Para se machucar e sair logo em seguida.
O meio-campista Andrezinho entrou aos 41 e fez, de falta, o gol da vitória do Inter, 3 minutos depois.
Justo Andrezinho, cria do Flamengo.
Por essas e por outras é que se diz que a realidade é muito mais inventiva do que a ficção.
Que roteirista urdiria uma trama dessas?
Os dois times fizeram um belo espetáculo, com raça de ambos os lados.
Destaque para o argentino Guiñazu, presente em todos os centímetros do campo, um gigante, responsável por 10 dos 30 desarmes do Inter.
Mesmo com a derrota e a eliminação, mas pela raça demonstrada, os torcedores do Flamengo saem tristes, mas felizes.
Fabrício Marques é jornalista.
18 de maio de 2009
Intenção e gesto
O Pênalti polêmico que deu a vitória ao Atlético contra o Grêmio rendeu muitos comentários. A maioria deles bairristas.
Acho que já não há dúvida de que a bola bateu no braço de Joilson. E uma velha questão aparece: mão na bola ou bola na mão. E aqui tenho que concordar com os árbitros: é subjetivo sim. E como concluir se o jogador teve ou não a intenção de tocar a bola ? É simples, e o jogo entre Atlético e Grêmio é rico em exemplos. Veja. O Lance de Welton Felipe foi claramente uma "bola na mão", já que o jogador não fêz nenhum gesto que revelasse sua intenção de tocar a bola. Foi apenas uma trapalhada digna de Welton felipe. Já o lance de Joilson foi "mão na bola", porque o jogador, ao abrir os braços, acrescentou uma área de possível contato da bola com o corpo, aumentando a possibilidade de domínio. O árbitro usou este critério, embora o link da reportagem afirme o contrário. Se há intenção, sempre haverá um gesto que irá denunciar o infrator.
17 de maio de 2009
Flamengo errático
Ontem, o rubro-negro empatou com o Avaí pelo Campeonato Brasileiro.
Nas duas partidas, nenhum gol, nem contra nem a favor.
Contra os gaúchos, o Fla fez uma bela partida.
Contra o time de Santa Catarina, um jogo feio, sem criatividade.
É por essas e por outras que o Juca Kfouri já batizou os cariocas de “time errático”.
Num jogo, obra de arte. No seguinte, futebol de quinta categoria.
E vamos nessa toada.
Mas um fato não muda: sempre a falta de finalizadores.
Contra o Inter, mostrou brio, raça, criatividade: foram duas bolas na trave, no primeiro tempo, e muitas chances perdidas, o que não é pouco.
O Internacional raramente ameaçou. Num raro lance perigoso, no fnal do jogo, Bruno garantiu.
Sim, camaradas, o Flamengo gritou: ninguém canta em nosso terreiro. E o lépido Neimar sumiu do jogo.
O Flamengo esbravejou: ninguém vence em nossa cancha. E o Internacional, com um dos melhores ataques do ano no país, não conseguiu marcar.
Toró, de volta após longo sumiço, esteve muito bem. Juan foi uma boa opção na esquerda, enquanto Leonardo Moura andou meio apagado. Ibson e Kleberson fizeram das suas.
E Willians e Airton se impuseram como muralhas.
Como no futebol dois e dois são cinco, tudo pode acontecer em Porto Alegre, no jogo de volta.
Tudo ia bem, até que o Flamengo novamente entrou em campo.
No primeiro tempo, chances mesmo só a partir dos 38 minutos do primeiro tempo, quando Bruno repôs rapidamente a bola ligando diretamente o ataque flamenguista. No final da história, chance clara de gol perdida por Juan. Antes do final dessa etapa, Leonardo Moura cobrou falta na trave, e, um pouco depois, Josiel, que começou jogando, chutou forte para boa defesa do goleiro adversário.
No segundo tempo, um jogo sem opções táticas. Chegou um momento em que a bagunça generalizada tomou conta do Maraca.
Willians fez uma jogada bisonha; e assim como dedicam uma placa para gols inesquecíveis, deveriam oferecer uma medida liminar que impedisse o jogador de pisar no gramado por umas três partidas, por conta de maltratar a bola e o espetáculo.
Juan foi uma boa opção na esquerda, enquanto Leonardo Moura andou meio apagado.Ibson e Kleberson não foram bem, e Cuca mexeu muito mal, nesse errático Flamengo.
Fabrício Marques é escritor
Domingão paulistano
Guilhermino Domiciano é ator e, como sua mãe, só torce quando o Brasil joga.
Sobre chutar tampinhas e os fundamentos do futebol
Não importa muito aqui. Este texto não merece credibilidade no que tange à história do esporte bretão, que é como os vencedores resolveram contar a história do fascínio do ser humano quando tem uma bola aos pés e algo em mente que se assemelhe ao gol.
Vem-me à cabeça uma referência que acho que está em Flávio de Campos, autor de livro sobre roteiros, em que ele fala da trama de um filme que põe frente a frente dois irmãos. Um, organizado, bem-sucedido, bem-casado e infeliz. Outro, desorganizado, confuso e viciado confesso em chute de tampinha na rua.
Via uma tampinha dando sopa sobre o calçamento e corria em direção a ela – as balizas imaginadas entre o poste e um sinal de trânsito – para desfechar um chute e tentar o gol. Com direito a fazer barulho de torcida com a boca caso marcasse. O irmão responsável detestava essa demonstração pública do que considerava um sinal insuportável de infantilidade.
Mas futebol, além de ritual importante entre os povos e manifestação lúdica na cabeça de quantos aficionados malucos e nem tanto, é também uma arte que tem seus fundamentos. O “De Salto Alto” foi à rua para investigar que troço é esse de fundamento no esporte em que, dizem os que não estão interessados no assunto, 22 correm atrás de uma bola.
Aprendemos com o quadro do “Meio de Campo” que existem fundamentos básicos e refinados. Aprendemos que as tais categorias de base os treinam, que atletas profissionais às vezes os desconhecem e que treinadores da estatura de Telê Santana foram o que foram porque reconheciam neles o ponto de partida para formar times vencedores.
Ao final, Carol Delmazo, de salto alto, se entusiasma e parte para um chute contra meta guarnecida por goleiro, em lance capturado pela lente do cinegrafista. A bola tira tinta no poste. Valeu, Carol. Se fosse gol iam dizer que tinha sido combinado. Sabemos que não foi. Foi puro amor pela bola. Puro desejo de balançar as redes e sair para o abraço.
Alexandre Freire
13 de maio de 2009
Rei de Copes
Nesta quarta-feira, meu Barcelona sagrou-se campeão da Copa do Rei da Espanha pela 25ª vez em sua história. A final foi disputada na cidade de Valência, contra o Athletic Club, de Bilbao.
Foi de virada. Toquero abriu o placar aos oito minutos de jogo. O empate blaugrano saiu aos 30 minutos, num belo gol de Yaya Touré, volante oriundo da Costa do Marfim.
Na segunda etapa, aos 10 minutos, Messi aproveitou o rebote e chutou, da marca do pênalti, deixando o Barça em vantagem. E três minutos depois, Bojan ampliou.
Para completar, o volante/meia espanhol Xavi – eleito o 5º melhor jogador do mundo pela FIFA – balançou as redes numa cobrança de falta perfeita. Indefensável!
Um grande jogo. Não somente pela vitória do Barcelona, mas pelo bom futebol apresentado (virou rotina!) pela equipe do técnico Josep Guardiola – que é ex-jogador do time catalão.
Tirando os contundidos Henry, Rafa Márquez e Iniesta, e Abidal, suspenso, Guardiola escalou o que tinha de melhor. Poupou apenas Valdés – mas esse não me inspira muita confiança mesmo.
E foi, também, uma revanche. Os clubes decidiram o título num jogo tumultuado, em 1984. O Athletic venceu no campo, mas perdeu na briga. Diego Maradona deu um mau exemplo.
Um torcedor tentou manchar esta nova decisão entre Barcelona e Athletic Bilbao, ao jogar e acertar uma garrafa no lateral-direito brasileiro Daniel Alves. Foi identificado e detido pela polícia.
E também teve protesto político. Tanto o Barça quanto o Athletic são originários de regiões separatistas na Espanha (Catalunha e País Basco, respectivamente).
Antes de a bola rolar, os torcedores dos dois clubes vaiaram o hino nacional espanhol e o rei Juan Carlos I, que acompanhava a partida nas tribunas do estádio Mestalla.
Confira a campanha do campeão:
1ª Fase:
Benidorm 0x1 Barcelona (Bojan)
Barcelona 1x0 Benidorm (Messi)
Oitavas-de-final:
Atlético de Madrid 1x3 Barcelona (3 gols de Messi)
Barcelona 2x1 Atlético de Madrid (Bojan e Gudjohnsen)
Quartas-de-final:
Espanyol 0x0 Barcelona
Barcelona 3x2 Espanyol (2 gols de Bojan e Pique)
Semifinal:
Barcelona 2x0 Mallorca (Henry e Rafa Márquez)
Mallorca 1x1 Barcelona (Messi)
Final:
Athletic Bilbao 1x4 Barcelona (Yaya Touré, Messi, Bojan e Xavi)
Viu? Em nove jogos, sete vitórias e dois empates. Campeão invicto! O ataque marcou 17 gols (Messi foi o artilheiro da equipe na competição, com seis). A defesa levou apenas seis gols.
Este foi o primeiro passo para coroar uma temporada perfeita para um time excelente. No final de semana, contra o Mallorca, podemos conquistar antecipadamente nosso 19º título espanhol.
E no dia 27 de maio (ai, meu Deus!) será disputada a grande final da Liga dos Campeões da Europa, contra o Manchester United, do português Cristiano Ronaldo.
Fico aqui, à distância, na torcida por novas conquistas do Barça, reconhecidamente Més que un Club – Mais que um Clube, em catalão.
Ah! E o Rei de Copes - Rei das Copas, em catalão - é porque o Barcelona sacramentou sua posição de maior vencedor do torneio, evitando que o Athletic igualasse o número de títulos.
Fábio Pinel é apresentador do programa Meio-de-Campo.
Agora faltam 5!
Ontem à noite, em Cancún, no México, aconteceu a final da Liga dos Campeões da Concacaf. Era pra ter sido em 29 de abril, mas foi adiada por causa da gripe suína. A partida, transmitida ao vivo pela ESPN internacional, mostrou times com qualidade técnica questionável.
O fato é que ficou definido o segundo classificado para o Mundial de Clubes da FIFA, entre os dias 9 e 19 de dezembro - este ano em Abu Dabhi, nos Emirados Árabes Unidos.
O Atlante - que é da cidade de Cancún - sagrou-se campeão do torneio que reúne equipes do Caribe e das Américas Central e do Norte. Na decisão do título, empatou em 0 a 0 com o Cruz Azul, também do México. Levou a taça por ter vencido o primeiro jogo fora de casa por 2 a 0.
O Atlante se junta ao Auckland, da Nova Zelândia - campeão da Oceania. No próximo dia 27 será definido o representante europeu. Manchester United e o meu Barcelona se enfrentam no estádio Olímpico, em Roma. Haja coração...
Vão ficar faltando os campeões dos Emirados Árabes Unidos, da África, da Ásia e da América do Sul - no caso, o vencedor da 50ª edição da Copa Libertadores da América. Pode ser o Cruzeiro? Pode. Por isso, escrevo para a China Azul se preparar para os possíveis adversários no Mundial.
Não estou afirmando que a Raposa será campeã - até já destaquei isso anteriormente aqui no blog - mas seguindo os passos do técnico Adílson Batista, não custa nada se antecipar e manter-se informado sobre as possibilidades futuras...
Fábio Pinel é apresentador do programa Meio-de-Campo.
11 de maio de 2009
Brasileirão 2009
Os destaques da primeira rodada:O internacional de Nilmar, ou Nilmaradona, como vem sendo chamado depois do golaço que marcou contra o Corínthians. O Cruzeiro de Fábio, que fez esta defesaça no pênalti cobrado por Juan do Flamengo. Foi um começo eletrizante.
10 de maio de 2009
Chamem o Adriano!
Logo aos 15 minutos Jancarlos, do Cruzeiro, foi expulso. O time celeste teria ainda dois terços do primeiro tempo e todo o longo segundo tempo pela frente, para evitar uma derrota então anunciada.
Como se não bastasse, Juan, na seqüência da expulsão de Jancarlos, tinha um pênalti para cobrar.
Qualquer torcedor, do Flamengo ou de qualquer time, vibraria ao ver desde o início do jogo o seu time em vantagem numérica.
Eis que o que seria doce se acabou: o lateral-esquerdo flamenguista perdeu o pênalti e, 14 minutos depois, o Flamengo sofreu um gol de pênalti, batido por Kléber, que travava um duelo particular com os zagueiros do time carioca.
Incrível: o Flamengo voltou para o segundo tempo e não conseguiu furar o bloqueio cruzeirense.
Mesmo com o domínio da posse de bola, os rubronegros não conseguiam ultrapassar a defesa adversária.
Verdade seja dita: se o Cruzeiro raramente ameaçou o gol de Bruno, só aqui e ali o Flamengo chegou perto de vencer
Fábio. E, para completar, aos 44 do segundo tempo Ramires sacramentou a vitória azul.
Conclusão: o Flamengo permanece com o crônico problema de anos. Falta-lhe um finalizador digno. Emerson (no primeiro tempo) e Josiel (que o substituiu no segundo) não satisfazem a fome da torcida. Não fazem gols.
7 de maio de 2009
Complexo de vira-latas 3
O Mineirão estava quase vazio e nas casas, as TVs eram usadas como som ambiente. Ao menor sinal de mais um vexame, as arquibancadas seriam abandonadas e as TVs, desligadas. Ninguém estava disposto acompanhar mais um drama até o fim.
Mas algo saiu do script. O time reagiu, conseguiu levar a disputa para os pênaltis. Aí, tudo mudou. Quem morava perto do Mineirão tratou de correr pra lá. Bares se encheram. Olhos esbugalhados de esperança grudaram nas telinhas.
Disputa de pênaltis em rede nacional. O Atlético era atração em todo Brasil. E foi assim, num ato de vaidade cruel, sob os olhares de milhões, que o time esticou ao máximo a esperança do torcedor. Até o último pênalti. Foi aí que ela se rompeu como um músculo distendido. Mas sem grito de dor.
Envergonhado, o atleticano baixou os olhos, mirou o chão e foi cuidar da sua vida.
Túlio Ottoni
Coragem de errar
Bater o último pênalti de uma série de cinco, quando todos os anteriores, do seu time e do adversário, morreram nas redes, exige coragem.
Bola na marca, goleiro colocado, imagino que entre o apito do juiz e o trote em direção à meta, transcorra um tempo infinito.
O que terá escutado Leandro Almeida naqueles poucos segundos ontem antes de errar a penalidade que selou a sorte do Galo na Copa do Brasil?
Escutou o próprio coração? Ou o silêncio da torcida, respiração presa no peito? Ouviu as preces dos companheiros abraçados, presos ao contorno de aço do círculo central?
Lembrou-se de um momento qualquer do passado, em que, diante de um desses desafios que a vida nos reserva, teve de provar para si mesmo que já era um homem?
A gente nesse mundo de ruídos, em que a comunicação está sempre gritando alguma coisa, só se dá conta da eloqüência do silêncio – como o que acompanhou ontem os passos de Leandro Almeida em direção à bola no Mineirão – em momentos como esses.
Momentos épicos porque escrevem uma página da história; dramáticos porque colocam frente a frente a solidão do protagonista com a ação inevitável; líricos porque há sempre poesia no confronto do ser humano com seu destino.
Leandro Almeida errou ontem, mas teve a coragem de errar. A torcida do Galo, sofrida como anda, deve lembrar-se disso. Só se pode cobrar garra de quem tem coragem.
Ontem, no Mineirão, a bandeira alvinegra foi de novo o manto em que a torcida se agasalhou contra a tristeza. Mas todas as bandeiras, todos os olhos e todos os corações atleticanos reunidos ali, mesmo tristes, testemunharam que há um Atlético que continua grande. Grande no brio de um time desarrumado que lutou até o fim, na coragem dum moço que não fugiu à sua responsabilidade, na esperança num Galo que há de voltar a assumir o posto que é seu entre os maiores.
Alexandre Freire
5 de maio de 2009
Seleção do Campeonato Mineiro
4 de maio de 2009
A culpa é de quem?
Nas outras vezes em que assumiu a equipe, sucesso. Em 1997 foi campeão da Conmebol. Dez anos depois, evitou o rebaixamento. Agora, montando o elenco, poderia ser ainda melhor.
Poderia, mas não foi. No primeiro jogo do ano, um presságio. Goleada do Cruzeiro por 4 a 2, no estádio Centenário (que ironia!), em Montevidéu, no Uruguai, pelo Torneio Verão. Explicação: o grupo estava desentrosado – ao contrário do rival, que manteve a base da temporada passada.
Veio o Campeonato Mineiro, com dois empates nas primeiras rodadas (América/0x0 e Tupi/2x2), seguidos de duas vitórias (Rio Branco/3x0 e Uberaba/4x1). Susto, mas Diego Tardelli e seus gols deixavam os atleticanos cada vez mais empolgados. Até o clássico...
Nova derrota, agora por 2 a 1. E o time atuou bem, mesmo depois que Alício Pena Júnior não marcou a falta de Léo Fortunato em Carlos Alberto, no início do jogo. Lance crucial e a culpa, desta vez, foi do árbitro.
Kalil protesta contra a Federação Mineira de Futebol e sua comissão de arbitragem. Lincoln Afonso Bicalho se afasta, alegando problemas de saúde. Aumenta a pressão sobre os árbitros.
Nas dez partidas seguintes, entre goleadas e vitórias apertadas, o Galo igualou uma sequência histórica de triunfos. A invencibilidade alvinegra durou, no total, 13 partidas. Que fase! Só terminou no primeiro jogo da final do Mineiro...
5 a 0, como na decisão de 2008. Indiscutível. Nervoso, Renan foi expulso após o terceiro gol. Um jogador a menos em campo, um gol a mais para o Cruzeiro. E mais nervosismo. Leandro Almeida apelou. Vermelho para ele e Ramires. E tome gol. Vixe!
As expulsões ajudaram o time a se afundar, mas antes já não estava dando nada certo, mesmo. Ninguém treina jogada aérea? Marcos Rocha no banco? Por que Lopes ainda era titular? Juninho: até quando? Rafael Miranda é pior do que Júnior Carioca?
Muitas dúvidas, poucas respostas. E para piorar, veio a derrota para o Vitória – 3 a 0, em Salvador. O time conseguiu ser pior contra os baianos do que foi no clássico. Era muito para o já combalido atleticano.
Faltava tampar o caixão. Ontem o Atlético até mostrou garra, mas não foi suficiente. Emerson Leão voltou a culpar a arbitragem. Sem razão. Não voltou para o 2º tempo e não viu a festa celeste.
Enquanto os cruzeirenses comemoravam o 35º título estadual, Kalil tomava uma decisão: chega de Leão! Na madrugada, o treinador caiu. Foram 21 partidas (13 vitórias, quatro empates e quatro derrotas – três diante do Cruzeiro!).
Para substituí-lo, o Clube contratou Celso Roth. A “Mecânica do Jogo” está de volta ao Atlético, só que as peças precisam de ajustes. Parafraseando outro treinador gaúcho, digo: “vamos aguardar”. Sucesso ao novo treinador, que já assume o comando nesta segunda-feira.
Kalil disse, e cumpriu. O Atlético não perderia o título Mineiro por causa da arbitragem. Depois dos 5 a 0, chamou para si a responsabilidade. De quem é a culpa? Fico com Zezé Perrella: “O culpado não é o presidente do Atlético. O culpado é o Kleber, é o Fábio... A culpa não é da quadrilha (da FMF), mas do esquadrão cruzeirense”.
Fábio Pinel é apresentador do programa Meio-de-Campo.
Favorito, sim senhor!
Atual bi-campeão mineiro, a Raposa mostra uma coincidência nas duas últimas conquistas. Se o Inter obteve duas goleadas nas finais por 8 a 1, sobre o Juventude e Caxias, a equipe estrelada goleou o maior rival, duas vezes, por 5 a 0!
Nas duas ocasiões o técnico era Adílson Batista. E desta vez, aos trancos e barrancos (por causa das críticas sobre o, agora comprovado, bem-sucedido rodízio), o comandante celeste conduziu o Clube à sua 10ª conquista estadual de forma invicta.
Os números impressionam: são 12 vitórias e cinco empates. O ataque foi o melhor, com 51 gols a favor (média de três por jogo). A defesa teve, ao lado do América, a melhor média de gols sofridos por partida (0,76).
Se contabilizarmos o desempenho na Copa Libertadores e no Torneio Verão, os números continuam chamando a atenção. Nos 25 jogos em 2009 foram 18 triunfos, seis empates e apenas a derrota para o Estudiantes-ARG (0 a 4). São 68 gols marcados e apenas 21 contra.
O elenco tem grandes jogadores. O mais importante no momento talvez seja Kleber – artilheiro da equipe na temporada, com 15 gols. O meio-campo é um dos melhores no Brasil: Marquinhos Paraná, Fabrício, Ramires e Wagner dispensam comentários.
A defesa, muito contestada nos anos anteriores, encontrou peças importantes, como Leonardo Silva, e conta com o bom momento de Léo Fortunato. Adílson ainda tem à disposição Thiago Heleno, Gustavo e Anderson – que travam uma boa briga pela titularidade.
E o goleiro Fábio? Que fase vive o camisa 1! Ótimas defesas e liderança dentro de campo – é hoje o capitão da equipe. Contestado no passado por parte da torcida, deu a volta por cima e agora é quase uma unanimidade entre os cruzeirenses.
Por isso afirmo que o Cruzeiro é um dos candidatos ao título do Brasileirão. O começo será difícil. Enquanto seguir na briga pelo tri-campeonato da Libertadores, imagino que Adílson Batista deixará a competição nacional de lado – no bom sentido.
Mas é importante não vacilar. O time enfrenta, nas seis primeiras rodadas, Flamengo (09/05), Náutico (17/05), Vitória (23/05), São Paulo (31/05), Internacional (06/06) e Palmeiras (14/06).
Deixo um alerta para a China Azul: nada de desânimo ou pessimismo caso o time tenha – e terá! – alguns tropeços. Ser campeão mineiro é uma coisa. Disputar a Série A é outra...
Fábio Pinel é apresentador do programa Meio-de-Campo.
3 de maio de 2009
Copa do Brasil de luxo?
A Raposa, que estava no Grupo 5, teve a 5ª melhor campanha entre os times que terminaram em primeiro lugar nas suas chaves.
Assim, a equipe celeste vai jogar contra o Universidad de Chile – apenas o 4º melhor entre os segundos colocados. Estava no Grupo 7, com o Grêmio.
O primeiro confronto será na próxima quinta-feira (7), às 22h (horário de Brasília), no estádio Nacional, em Santiago, no Chile.
A partida de volta contra os chilenos foi marcada para o dia 14 deste mês, às 19h30, no estádio Mineirão, em Belo Horizonte.
Moleza. Principalmente se compararmos com o ano passado, quando o Cruzeiro acabou eliminado em casa pelo Boca Juniors.
O pior ainda está por vir. Passando pelo Universidad de Chile, a competição deverá se tornar um verdadeiro duelo de brasileiros.
Nas quartas-de-final, o time pega o vencedor de São Paulo e Chivas Guadalajara, do México, que se enfrentam na quarta-feira (6).
Nas semifinais, o mais provável é que o Grêmio apareça no caminho. Os donos da melhor campanha geral jogam contra o Universidad San Martín, do Peru.
Os gaúchos não devem ter problemas para eliminar os peruanos e então enfrentar o vencedor de Caracas, da Venezuela, e Deportivo Cuenca, do Equador.
Palmeiras e Sport: somente um segue na briga. Foto: Agência Estado
Caso o Cruzeiro chegue à decisão, pode enfrentar Palmeiras ou Sport, que jogam entre si já nas oitavas-de-final. A revanche contra o Boca Juniors só será possível na final.
O Cruzeiro tem um ótimo elenco e o time é eficiente, mas pelas minhas projeções vai encarar adversários igualmente qualificados. Se for campeão, terá sido mais do que merecido. Deixo aqui o meu desejo de boa sorte para Adílson Batista e os jogadores.
Fábio Pinel é apresentador do programa Meio-de-Campo.
Complexo de Vira-latas 2
Que domingo atleticano! Que domingo.
As torcidas de Cruzeiro, Flamengo e Corinthians, os três maiores rivais do Galo, estão felizes da vida. São campeões.
Você não tem escapatória, atleticano. Nesta segunda-feira, em qualquer ponto de ônibus, bar ordinário, ou canteiro de obras vai haver um gozador a sua espera. Pois é, até o Cuca foi campeão.
Aliás não é só o domingo de hoje que o atleticano precisa apagar da memória. Pode esquecer também toda esta primeira década do século 21. Foi uma década perdida.
Sorte sua, atleticano, é que não há muito tempo para se lamentar. Quarta-feira tem o Vitória da Bahia pela Copa do Brasil.
Até a tristeza precisa ser renovada.
Túlio Ottoni
2 de maio de 2009
Questão de coração
Semana longa tiveram os apaixonados alvinegros. Com os torcedores adversários no pé e uma enxurrada de piadas – pessoalmente na escola, na rua e no trabalho, pela internet, na charge dos jornais, no discurso da mídia que se repete e se repete e se repete.
Um amigo atleticano me disse que estava miserável. Encontrou o filho prostrado diante da bandeira com um escudo em forma de coração e apenas duas cores que traduzem o infinito de maneira dialética – o branco, soma de todas as cores; o preto, ausência delas. Esse amigo não soube o que dizer ao filho e pôde apenas dar um abraço no moleque.
Esse amigo sabe bem o que é ser moleque diante da máquina cruzeirense. Na década de 60 colecionou brigas depois das aulas no Pandiá Calógeras para continuar uma contenda quando faltaram argumentos.
Bom que os arrufos de criança não têm consequências durarouras. Logo esquecidos porque há figurinhas a trocar, filar uma guimba de picolé ou cachorro-quente, comentar a matinê ou combinar uma partida de botão, mãe-da-rua, finca... Ou, claro, a velha pelada numa época em que havia terrenos baldios naquela Belo Horizonte em vez de escolinhas e uniforme completo.
Amanhã é dia de clássico. Kalil, que precisa aprender a cultivar o silêncio quando não tiver nada de essencial a dizer, afirmou depois da goleada que o título já é do Cruzeiro. Pode ser, mas não soa bem afirmar que uma batalha está perdida antes de seu início. Bom saber que os jogadores do Galo pensam de modo diferente e pretendem mostrar isso em campo. Revelam maior conhecimento do que significa a camisa alvinegra.
Análises racionais apontam o Cruzeiro como vencedor porque tem um time melhor, fruto de planejamento, investimento correto, vendas vantajosas. Deve ser. Da mesma maneira, o Galo coleciona insucessos porque vem de uma história de administrações incompetentes. Pode ser também.
Coisa aborrecida ter razão. Explicar tudo. Aos atleticanos todos – o tal amigo, o moleque dele e o resto desta torcida admirável – só posso dizer uma coisa: independentemente do resultado amanhã, o que um coração branco-e-preto espera, por sua história, é dignidade. Essa virtude tão importante e tão esquecida em tempos dominados por todo o enfadonho léxico da Administração de Empresas e pela razão instrumental, vazia de humanidade.
O Galo não é empresa e nunca será. Futebol é arte e sempre vai ser. Neste domingo tem clássico. A torcida alvinegra espera que Leão e seus comandados saibam colocar o coração no lugar que esse órgão bizarro da anatomia humana deve assumir diante de confrontos épicos.
Melancolia é algo que se dissipa com os primeiros raios de sol para os espíritos que não fogem à luta, que sabem que a beleza está no caminho, não na chegada.
Alexandre Freire
O Cruzeirense
Primeiro, porque o cruzeirense é filho da mística imigrante do trabalho, herdeiro direto dos colonos italianos que em 1921 transformaram um sonho em time de futebol.
E quem em 1942 converteram o Palestra Itália em Cruzeiro Esporte Clube, sangue azul e brasileiro.
Em segundo lugar, o cruzeirense dirige de modo permanente o olhar para o alto porque ele também descende dos símbolos celestes, como o Cruzeiro do Sul, uma das mais importantes constelações do firmamento.
Exigente como poucos, o torcedor da Raposa, quando cobra do seu time, viaja em velocidade de cruzeiro: é um voo reto e nivelado, caracterizado pela altitude e a velocidade. Em outras palavras, um voo de quem sabe o que quer e não se contenta com pouco. Por isso chega a ser impaciente e pode abandonar o time nas horas difíceis.
No cruzeirense de repente a anatomia fica doida, e oitenta por cento de seu coração passa a ser comandado pela razão. Se os olhos estão no céu, o coração está sempre no chão, racional. Os outros vinte por cento, mineiros, desconfiam.
O cruzeirense vive a permanente experiência dos que, num passe de mágica, transportam o céu para os gramados. Por isso, tratou de abastecer o campo com uma constelação de estrelas: de Tostão, Dirceu Lopes e Palhinha, até Ramires, Fábio e Wagner, passando por Alex e Sorín. São referências que unem uma nação acostumada a conquistar seus objetivos.
Com todos esses atributos, fica difícil o torcedor cruzeirense não raro ter manias de grandeza: sente-se em casa na Libertadores da América e nos campeonatos de dimensão continental, como o Brasileiro e a Copa do Brasil. Parece soberba, mas não é.
Dono de uma alegria cartesiana, que o faz esquecer rapidamente das conquistas e ambicionar novas vitórias, o torcedor cruzeirense exige estar sempre no céu, que é um outro nome para ganhar títulos, corações e mentes.
O cruzeirense vive cheio de vaidade. O trem azul passa e logo na primeira viagem ele já vai na janela, pedindo passagem em direção às estrelas.
Fabrício Marques é jornalista e escritor
Nota: Fabrício escreveu também "O Atleticano", postado neste blog em 19 de setembro de 2008. Para achá-lo, basta usar a ferramenta de busca.