Bater o último pênalti de uma série de cinco, quando todos os anteriores, do seu time e do adversário, morreram nas redes, exige coragem.
Bola na marca, goleiro colocado, imagino que entre o apito do juiz e o trote em direção à meta, transcorra um tempo infinito.
O que terá escutado Leandro Almeida naqueles poucos segundos ontem antes de errar a penalidade que selou a sorte do Galo na Copa do Brasil?
Escutou o próprio coração? Ou o silêncio da torcida, respiração presa no peito? Ouviu as preces dos companheiros abraçados, presos ao contorno de aço do círculo central?
Lembrou-se de um momento qualquer do passado, em que, diante de um desses desafios que a vida nos reserva, teve de provar para si mesmo que já era um homem?
A gente nesse mundo de ruídos, em que a comunicação está sempre gritando alguma coisa, só se dá conta da eloqüência do silêncio – como o que acompanhou ontem os passos de Leandro Almeida em direção à bola no Mineirão – em momentos como esses.
Momentos épicos porque escrevem uma página da história; dramáticos porque colocam frente a frente a solidão do protagonista com a ação inevitável; líricos porque há sempre poesia no confronto do ser humano com seu destino.
Leandro Almeida errou ontem, mas teve a coragem de errar. A torcida do Galo, sofrida como anda, deve lembrar-se disso. Só se pode cobrar garra de quem tem coragem.
Ontem, no Mineirão, a bandeira alvinegra foi de novo o manto em que a torcida se agasalhou contra a tristeza. Mas todas as bandeiras, todos os olhos e todos os corações atleticanos reunidos ali, mesmo tristes, testemunharam que há um Atlético que continua grande. Grande no brio de um time desarrumado que lutou até o fim, na coragem dum moço que não fugiu à sua responsabilidade, na esperança num Galo que há de voltar a assumir o posto que é seu entre os maiores.
Alexandre Freire
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