9 de julho de 2009

Futebol-poesia


Tá certo que num país colonizado pela mídia do eixo Rio-São Paulo, qualquer espirro que alguém dê no Flamengo ou no Corinthians tenda a sair de escala e ser reverberado país afora. Ontem, contudo, Ronaldo “Fenômeno” mostrou de novo que não tem o epíteto entre aspas à-toa.

Na vitória do Timão sobre o Fluminense por 4 a 2, jogo tardio da nona rodada do Brasileirão, o ex-jogador do Cruzeiro fez três gols que refletem seu talento incomum. Valeram-lhe elogios rasgados na mídia e uma cornetada de Carlos Alberto Parreira, escalando o camisa 9 no time de Dunga em 2010.

Ronaldo é um desses atacantes que lembram a referência de Chico Buarque ao “senso diagonal” do homem-gol na música “O Futebol”. Em si, a expressão não diz nada objetivamente, como convém à poesia, suponho. Mas há algo no deslocamento do Fenômeno que lembra a discussão do cineasta Píer Paolo Pasolini, citada por José Miguel Wisnik em seu livro Veneno Remédio.

O diretor de cinema italiano comparou, num texto de 1971, o futebol europeu ao futebol-prosa e o latinoamericano ao futebol-poesia (veja aqui).

Ontem a mídia carioca-paulistana não exagerou. Parabéns para ela. Fenômeno foi verdadeiramente fenomenal. A etimologia desta palavra indica aquilo que se apresenta aos nossos sentidos. Os olhos, de fato, fizeram festa com os gols do novo ídolo da Fiel.

Alexandre Freire é jornalista

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