Não sei se ele vai jogar. A memória que tenho de Renan Oliveira é ele parado, numa das goleadas que o Galo tomou da Raposa. Diante dele, Fábio, o super-goleiro do Cruzeiro. Tudo isso se passa numa fração de segundos. Leandro numa ginga de corpo desconcerta o goleiro celeste, mas um capricho do destino faz a bola bater na trave. No instante seguinte, tudo se precipita como se o jogo tivesse saltado do modo slow motion para a velocidade normal. Talvez a nossa cabeça já esteja viciada em rever o lance como na TV. De vários ângulos.
No domingo, o Galo pega o Botafogo, laterna, no Mineirão. Para um amigo botafoguense – e atleticano fanático em Minas – prometi que torceria por um empate, mas por desencargo de consciência disse que achava que o Fogão levaria uma sapatada.
Digo isso porque o glorioso anda evoluindo. Roth trabalha. Há um elenco que é meio a conta do chá, mas que tem achado o caminho do gol, ressalva feita ao jogo contra o Barueri, que até hoje estou sem entender.
Deixo as análises de fragilidades e potencialidades, a dimensão psicológica, a tradição aos especialistas. O Botafogo tem treze vitórias em jogos contra o Galo. O time de Lourdes venceu dez vezes. Nove empates testemunham o equilíbrio. Acho que será um jogão – duelo de alvinegros.
Quando eu era moleque tinha mania de ficar admirando os escudos. Os emblemas do Atlético e do Botafogo têm a forma do coração. Sempre tive simpatia pelo time da estrela solitária, no centro geométrico daquele espaço enorme que é a glória de um escrete que já emprestou um ataque inteiro à Seleção Brasileira numa época que nem era ainda a Seleção Canarinha. Ou talvez já fosse. E com Garrincha de lambuja.
O do Galo, tinha mania de desenhar. Estava em quantas páginas de cadernos. Fruto de horas ociosas no Colégio Estadual Central, em que em vez de prestar atenção às aulas, sonhava com uma colega de sala de cabelos louros e os momentos de perseguir a bola de futebol de salão nas quadras. Nem era futsal ainda.
Variava a largura das listras, caprichava no traço da borda de cima, que lembra um brasão, as linhas verticais paralelas como as laterais do campo, o perfeito contraste que de tanto ser perseguido com lápis 2B ameaçava rasgar o papel.
Isso tudo para dizer que o momento é de Renan Oliveira, jogador cerebral que pode reeditar no Galo uma tradição que está sem herdeiros desde que Reinaldo Lima pendurou as chuteiras. Acho que a frieza dele pode se encaixar bem num Atlético que vai ganhando a cara do treinador gaúcho. O Galo sempre foi o time da pegada em Minas.
Domingo é dia de defender a liderança do Brasileiro. Do Brasileiro, eu disse. Momento crucial para o moral do time, que depois da surra do Barueri vestiu de vez a carapuça de cavalo paraguaio. Não acho que o Galo seja. Com um pouco de disciplina tática, coisa que faltou no último jogo, o alvinegro se aproxima do equilíbrio. Aí faz girar a bola, acerta os passes e sai em velocidade rumo ao gol adversário.
Aí, meu amigo, dá até para sonhar.
Alexandre Freire é diplomado em jornalismo.
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