15 de julho de 2009

Elivélton, um herói sem ingresso


Eram quase 30 minutos do segundo tempo. Nonato cobra escanteio pela esquerda.
A bola viaja e após um desvio do beque adversário vai parar na entrada da grande área.
“Deixa, Gottardo. Deixa, Gottardo. É minha.”

Depois de berrar essa frase para o companheiro, o canhoto Elivélton acerta um chute de direita e faz o gol chorado que garantiu o bicampeonato da Libertadores para o Cruzeiro em cima do Sporting Cristal, no dia 13 de agosto de 1997, dentro de um Mineirão com mais de 100 mil pessoas.

O gol transformou Elivélton em símbolo daquela conquista e criou um vínculo forte com o clube celeste. Laço que ele faz questão de manter até hoje.

Quase 12 anos após sair do Mineirão ovacionado, Elivélton, 37 anos, não estará hoje no estádio para ver final da Libertadores contra o Estudiantes. O motivo: assim como milhares de torcedores anônimos, não conseguiu um ingresso para a finalíssima.

O filho, Gabriel, 12 anos, nascido nas proximidades daquela Libertadores da qual o pai foi herói, se tornou cruzeirense apaixonado.

Elivélton e o filho terão de acompanhar o Cruzeiro em campo contra o Estudiantes de Alfenas, no Sul de Minas, a 340 quilômetros de Belo Horizonte. Ontem à noite, por telefone, Elivélton concedeu entrevista ao blog.

O principal assunto foi a finalíssima contra o Sporting Cristal, em 97, mas ele ainda falou que deseja jogar por até mais quatro anos e também comentou sobre a vida em Alfenas.
Elivélton, você fez o gol do título que garantiu o bicampeonato da Libertadores para o Cruzeiro, em 97. Como é a sua relação com o clube hoje, quase 12 anos depois daquela decisão contra o Sporting Cristal?
Tenho uma relação muito especial com o Cruzeiro. Meu filho Gabriel é cruzeirense e vamos torcer bastante contra o Estudiantes aqui em casa.

Porque vocês não virão ao Mineirão?
Estamos sem ingresso. Estive a última vez em Belo Horizonte em 2007, sendo homenageado pelo título de 97. Depois disso, não tive mais contato com ninguém do Cruzeiro. Gostaria de estar no Mineirão com meu filho. Mas vamos estar em casa torcendo e muito pelo Cruzeiro.

Tem palpite para a decisão?
Jogar contra os argentinos é duro. Vamos lá. Vou arriscar 1 a 0. Jogo complicado demais, com título do Cruzeiro.

Voltando em 1997. O que você lembra daquela decisão?
Parece que foi ontem. Não esqueço do gol. Está muito claro na minha mente. Eu saí correndo, atravessei todo o gramado do Mineirão e fui abraçar o Dida, que tinha feito uma defesa extraordinária um pouco antes.

Elivélton, gostaria que você comentasse um pouco mais o instante do gol, relembrando como estava o clima da partida, a tensão…
Como nós empatamos no Peru por 0 a 0, outro empate levaria a decisão para as penalidades.
Ninguém queria. Pênalti é loteria. A gente olhava um para o outro e sentia que estávamos preocupados com o 0 a 0, pois ninguém sabia o que poderia acontecer. Aí, aos 30 minutos do segundo tempo, pintou aquele escanteio que o Nonato bateu. Estava no rebote. O zagueiro deles desviou de cabeça e vi que a bola sobraria no lado direito da grande área. O (Wilson) Gottardo (então zagueiro e capitão celeste) quase pegou. Gritei para ele: “Deixa, Gottardo. Deixa, Gottardo. Essa é minha.” Agora, não deu para pegar de canhota, que é meu forte. Peguei de direita e o chute saiu com muito efeito. Para mim, isso atrapalhou o goleiro deles.
Depois disso, foi uma alegria enorme e conquistamos um título importantíssimo na minha carreira.

Você imaginou que poderia fazer o gol do título?
Eu sabia que faria um gol contra o Sporting Cristal. Não imaginava que fosse o do título, mas tinha o palpite que faria. Deus me abençoou.

Retornemos para hoje. Você está aposentado?
Não. Fiz 37 anos agora em junho e ainda quero jogar, quem sabe, até uns quatro anos mais.
Disputei a última Série A3 do Paulista pela Francana, de Franca. Sempre me cuidei bastante e estou em ótima forma. Fui artilheiro da Francana com dez gols no campeonato (a equipe não conseguiu o acesso para a Série A2). Recebi algumas propostas para disputar a Série C do Brasileiro, mas ainda estou estudando. Posso, inclusive, voltar para a Francana, onde tenho condições de desenvolver meu trabalho.

E a vida em Alfenas? Adaptado?
Cidade sossegada e boa demais para se morar. Gosto daqui. Tenho a Elivélton Sports Center, que é administrada pela minha esposa (Jocélia). Também temos uma loja evangélica.Estou curtindo mais a família e trabalhando junto com a minha esposa.
Pedro Blank é jornalista

2 comentários:

  1. oi e verdade que o galo vai contratar o coelho

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  2. elivelton por favor volte a francana aqui e o seu lugar

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