25 de março de 2009

Gerrard, Rafa, gols e muita história

Ofuscado pelo rival Manchester United e complexado por não conseguir chegar a um título da Premier League, o Liverpool chamou a atenção do mundo da bola ao golear o maior campeão da Liga dos Campeões, Real Madrid; calar o Old Trafford aplicando 4 a 1 no Manchester United, atual campeão inglês e da Liga dos Campeões; e, logo em seguida, fazer um 5 a 0 no Aston Villa, que disputa uma vaga na próxima edição do maior torneio europeu.

Chega a ser difícil apontar qual placar foi mais marcante. Eliminar o Real da Liga dos Campeões já é um feito marcante. Bater o Manchester, com todo o contexto da rivalidade existente, fora de casa, foi também emocionante. A vitória sobre o Aston Villa era esperada, entretanto, o volume de jogo apresentado deixou claro que o time do capitão Steven Gerrard não está para brincadeiras. 5 a 0 e três gols do craque inglês da camisa 8. Os números não estão soltos na trajetória Red. O Liverpool, no atual campeonato inglês, bateu Chelsea e Manchester duas vezes e só foi derrotado duas vezes em toda a competição.

A notícia da renovação de contrato do técnico Rafa Benitez até 2014 só fez aumentar a comemoração. Rafa tem métodos pouco tradicionais para o futebol brasileiro, entretanto, com baixo investimento, comparado aos rivais Chelsea e Manchester, ele obtém resultados incontestáveis. Qual é o segredo do Liverpool? Passa pelo rodízio de jogadores, vai ao planejamento bem feito, a uma torcida fanática e apaixonada, um esquema tático bem definido e chega a uma dupla de jogadores que alia técnica e força como poucos no mundo: Fernando Torres e Gerrard.

O ressurgimento da figura tática do ponta pode ser um segredo do treinador Rafa Benitez. Riera, pela esquerda, e o lutador Kuyt, na direita, jogam abertos. Sem a posse da bola os dois pontas assumem uma postura tática mais defensiva e se tornam meias, volantes ou até tradicionais laterais. Volantes fixos no time? Só um, e, nem sempre. Mascherano, Xabi Alonso e Gerrard fazem o meio de campo titular. A figura do volante que não sabe jogar, só rebate, só faz falta, não existe. Uma pergunta se torna inevitável então: o time fica desprotegido? Toma muitos gols? Claro que não! Sem a bola todos participam do jogo, todos voltam para a marcação e ocupação do espaço defensivo e retomada da bola.

A torcida sempre foi apaixonada. Desde 1892, ano da fundação. Com o tempo os laços foram se consolidando. As tragédias, especialmente a de 15 de abril de 1989 com 96 mortos, aproximaram ainda mais o clube do torcedor e criaram o mito da torcida red.

Dois jogadores são os preferidos pelos fãs. O goleador Torres e o mestre Gerrard. Torres poderia ser rotulado como grandalhão, o que atestaria a total falta de conhecimento de quem coloca o rótulo. A elevada estatura só é mais um bom motivo para elogiar Nino. Jogador jovem, de movimentação intensa, disciplina tática, boa técnica e faro de gol. Nino Torres é o atacante dos sonhos do torcedor. Por ocasião da disputa da Eurocopa, a cidade de Liverpool se vestiu de vermelho e amarelo e torceu junta pela Espanha de Torres. Não deu outra! Espanha campeã e Torres marcando o gol do título.

A paixão e a gratidão que a torcida têm por Steven Gerrard, ou Steve G, são indescritíveis. As qualidades dele também são imensas. As virtudes técnicas são inúmeras, entretanto, é nítido também que as qualidades como líder e capitão fazem muita diferença para o elenco do Liverpool. Recentemente, Gerrard se envolveu em uma confusão e acabou preso. Os torcedores não acreditaram no que estava acontecendo. Estariam diante da quebra da imagem de ícone? Aquele menino que chegou em Anfield com 10 anos e que perdeu um primo esmagado nas grades em 89 era um vilão e não um mocinho? A diretoria se posicionou a favor dele e poucos dias depois a camisa 8 vermelha estava conduzindo a equipe a mais uma vitória. Vitória que apagou um possível arranhão na imagem de Gerrard e aumentou a paixão pelo ídolo. Perto do fim do jogo, ele arrancou do meio campo até a área adversária, nada mais heróico que sair da cadeia e marcar um gol importante. Como em um roteiro de cinema, as próximas cenas surpreenderam a todos no estádio. Gerrard poderia ter feito o gol, poderia ter sido o herói, mas preferiu ser líder. Sem marcação, na cara do gol, ele preferiu rolar a bola para Torres que voltava de contusão, Torres fez o gol e saiu para comemorar com o líder.

Não será surpresa alguma se a história, banhada em sangue, lágrimas e muito suor entrar em campo nas finais da Liga dos Campeões e nos últimos jogos da Premier League, e se mística jogar...

Mário Marra é comentarista das rádios Globo Minas e CBN.

4 comentários:

  1. OLÁ MARIO MARRA.
    MAIS UMA VEZ, VOCÊ FOI BRILHANTE NO TEMA, NOS DETALHES E COMO SEMPRE, BOM CONHECEDOR DO FUTEBOL.
    CONCORDO PLENAMENTE QUE O GERRARD É CRAQUE E DIFERENCIADO.
    COMO GOSTO DO BOM FUTEBOL, DO CLUBE ESTRUTURADO, NÃO POSSO DEIXAR DE FALAR NO ÚLTIMO TÍTULO MUNDIAL DO SÃO PAULO.
    TÍTULO INCONTESTÁVEL.
    UM DOS PONTOS MARCANTES DAQUELE JOGO FOI A EXPRESSÃO DO GERRARD APÓS O APITO FINAL DO ÁRBRITRO.

    UM ABRAÇO!

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  2. parabéns Mário.ótima reportagem.
    vc mostra prá gente que o futebol não é só no Brasil.
    Ronaldo Silveira BH MG

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  3. parabéns pela bela reportagem. o futebol não é ´só no Brasil. é bom para aumentar nossos conhecimentos.
    valeu.

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  4. Ótimo comentário! Por favor, escreva mais sobre o Liverpool. Sugiro também que faça um texto sobre Rafa Benítez, um dos grandes técnicos do futebol mundial.

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