9 de setembro de 2009

Jornalismo não é assessoria de imprensa


Pegando o gancho levantado pela minha colega Carol Delmazo, que vem se firmando como uma voz isolada na mídia impressa sobre pontos de vista inteligentes de mulher falando de futebol – portanto na contramão do clichê enfadonho –, a irritação do técnico Adílson Batista com o repórter da Rede Minas Luciano Moreira é culpa da crônica esportiva.

Todos nós estamos entediados com o jornalista-torcedor, irmão siamês do fim da obrigatoriedade do diploma na área para o exercício da profissão. Não que eu defenda o diploma. Já foi tarde, porque jornalismo e jornalista não precisam de carimbo de faculdade privada de terceira linha. Jornalismo é coisa séria. Portanto, coisa diferente desse exercício amigável entre jornalistas e cartolas e estrelas do futebol (técnicos incluídos).

-- Boa noite, Adílson! Você não acha que você é o máximo, o time do Cruzeiro é o máximo e o resto do mundo está equivocado?

Ninguém aguenta mais isso.

O Meio de Campo deste domingo traz uma matéria tentando refletir sobre duas questões interdependentes. De um lado, sete times não trocaram de técnico desde o início do Brasileiro: Atlético, Cruzeiro, Corinthians, Inter, Grêmio (interpretação), Goiás e Avaí. De outro, a posição na tabela de cada um desses times.

Em que pese o Cruzeiro estar se recuperando da síndrome da Libertadores, esse estranho fenômeno que joga equipes como Fluminense, Sport e a Raposa numa espécie de limbo, lugar simbólico em que o time se desencanta com o mundo, o fato é que o esquadrão celeste, dos sete, é o que ocupa a pior posição na tabela entre as equipes que estão até hoje com o mesmo técnico desde o início do Brasileirão. Daí que um repórter digno do ofício, como o Luciano Moreira, tenha mais é que fazer perguntas incômodas, mesmo que tenham como objeto, por hipótese, o time do coração dele.

O repórter do Meio de Campo está certo em fazer perguntas incisivas. O resto é assessoria de imprensa! Tem um monte de coleguinhas que deveria refletir sobre a profissão e seus pressupostos, como o interesse público – esteio fundamental do bom jornalismo, principalmente do jornalismo ligado ao interesse do cidadão.

Como disse Son Salvador no domingo passado, na bancada do programa, a pergunta não é do Luciano, é do torcedor!

Que Adílson é um dos maiores técnicos da atualidade só quem está de má vontade desconhece. Como todo grande “professor”, é hora de ele mostrar humildade e aprender que é com críticas que se cresce em qualquer área do conhecimento. Perguntar não só não ofende, como faz a história andar pra frente.


Alexandre Freire

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