2 de janeiro de 2009

88 anos e saudades de Felício Brandi

O Cruzeiro completa 88 anos neste 2 de janeiro de 2009. Um clube que já conquistou quase 60 títulos entre internacionais, nacionais, interestaduais e estaduais. Boa razão para os cruzeirenses se sentirem mais do que satisfeitos. Sou um otimista, mas confesso que desde 2003, quando o time azul-estrelado conquistou a Tríplice Coroa, tenho razões para duvidar dos administradores que estão de plantão à frente do clube há mais de uma década.

Isso porque, por trás deles, existe um mentor – de nome José Francisco Lemos Filho –, que não pode ser apontado como um dirigente de visão. Explico a razão.

Quando eu e meu pai, Plínio Barreto, preparávamos material para escrever o livro “De Palestra a Cruzeiro, uma Trajetória de Glórias”, entrevistamos o Lemos para fazer parte dessa história tão bela e vencedora. O que mais me impressionou naquele papo foi a afirmação de que “para o Cruzeiro, ser campeão era sempre uma agonia, pois representava despesas e mais despesas”. Quer dizer, fazer um time campeão fica muito caro. Esse era o pensamento de pessoas influentes na direção do Cruzeiro, então um simples clube do Barro Preto.

O quadro começou a mudar quando um torcedor de nome Felício Brandi deu início ao trabalho como diretor de futebol. Homem de visão avançada para a época – anos 50 –, imaginava um Cruzeiro tão forte quanto os maiores do Brasil. E, é claro, tinha oposição ferrenha do grupo então comandado por José Francisco Lemos Filho. Era chamado de visionário, louco. Lemos foi uma das principais vozes contra a compra do sítio que se transformaria na Toca da Raposa. Pois Brandi não se deixou abater, com o próprio dinheiro comprou a propriedade e iniciou a construção daquela que seria a melhor concentração do futebol brasileiro e, porque não dizer, do mundo.

Sob a direção de Felício Brandi, o Cruzeiro passou a ser um dos grandes do futebol brasileiro e mundial. Foi a visão dele e a mania de pensar grande que fizeram o clube ser vencedor nas décadas de 1960 e 70. Campeão Brasileiro em 1966 depois de derrotar o poderoso Santos de Pelé, campeão da Libertadores em 1976, nove títulos mineiros. Nos times formados, despontavam jogadores que sempre eram lembrados para a Seleção Brasileira: Tostão, Dirceu Lopes, Piazza, Zé Carlos, Evaldo, Procópio, Nelinho, Joãozinho, Raul e muitos outros. Começava ali a arrancada.

Retornei no tempo para explicar o porquê do meu pessimismo. Os atuais administradores abandonaram a máxima de que time campeão tem que ter craques, jogadores que desequilibram e, por isso mesmo, caros. Zezé Perrella e Alvimar de Oliveira Costa, que se despediu da presidência no ano passado, assumiram mesmo o pensamento dos anos 50 do século passado – montar um time barato e de desconhecidos. Assim, podem revelar algum “gato pingado”, auferir lucros, não ter que pagar prêmios pelos títulos e manter o clube com caixa alto. Só não sei para quê? Talvez algum dia alguém possa me dizer de que adianta um clube ter dinheiro e não montar um time forte.

É isso. Parabéns ao Cruzeiro pelos 88 anos. E que as cinco estrelas – que agora “eles” tentam fechar de novo neste círculo de altíssimo mau gosto, figura geométrica que havia sido riscada da gloriosa camisa por Felício Brandi – possam iluminar a cabeça do presidente Zezé Perrella, que ele volte a ser aquele dirigente audacioso que assumiu pela primeira vez em 1995. Que Perrella se afaste das idéias atrasadas de quem ainda vive nos anos 50 do século XX e faça de novo a alegria do torcedor, conquistando títulos importantes. Ser campeão mineiro não basta mais para nós, cruzeirenses.

Luiz Otávio Tropia Barreto é jornalista da Rede Minas.

Um comentário:

  1. Olá Luiz, tudo bem? Meu nome é Diego Ricoy, estou cursando História pelo Centro Universitário UNA e estou fazendo minha monografia sobre a história do Cruzeiro. Estou precisando muito de entrar em contato com você, já que tenho necessidade de pesquisar sua obra e não encontro-a em lugar algum. Seria possível entrar em contato comigo? Meu e-mail é diego_ricoy@oi.com.br ou diego.ricoy@hotmail.com. Fico muito grato pela atenção e me disponho a qualquer informação. Um abraço! Diego Ricoy.

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