Hoje acordei com a estranha sensação de que o dia não era normal. Levanto da cama com uma musiquinha na cabeça, uma mistura de instrumentos que mais parecia uma charanga. Fui acompanhando a batucada e entrei no quarto do meu irmãozinho caçula, o Carlinhos. Ele e os amigos ensaiavam um hino para uma disputa que haveria no colégio. "Fecha a porta, pô! A gente tá na preleção!"' disse meio zangado. Adora um termo futebolístico esse meu irmão.
Saí andando e matutando como mamãe havia deixado aquela bagunça acontecer logo de manhã. Uma algazarra danada. Parece que hoje tudo é permitido. Desço para tomar café e me deparo com uma cena no mínimo inusitada, pra não dizer outra coisa. A Maria, nossa empregada, estava com um rolinho de cabelo em cada orelha, tipo Dona Florinda, empunhando uma escova de cabelo e falando sem parar, mais parecia um repórter de campo depois de um gol. "Ô seu minino, é que vai tê um concurso na rádia e eu ô treinando, dando tudo de si, pra ser campeão!", justificou com seu sotaque engraçadíssimo.
Não estou falando que esse dia está estranho? Resolvo dar uma volta pelo bairro para curtir o domingão. Logo de cara uma visão do paraíso. Uma loura monumental se aproxima de minha humilde pessoa. Minhas pernas tremem, a boca seca. Parece que vou cobrar um penalti decisivo. Ela passa eu e eu não faço nada, absolutamente nada! Tirei o pé da dividida e amarelei.
Passada a decepção, vou até a padaria comprar alguma coisa. Mal consigo chegar perto do local. Um tumulto impede minha aproximação. Dois caminhões tentaram estacionar na mesma vaga. Os motoristas desceram e o empurra-empurra começou. As cores de seus macacões se destacavam na multidão que se formava ao redor. Um preto e outro azul. Nessa hora, o dono padaria entra no meio e, como um juiz, fala uma meia dúzia de palavras e despacha os brigões pra casa. Tinha até torcida organizada para a confusão.
Depois dessa epopéia, volto pra casa. Papai está na cozinha preparando algo e ouvindo seu radinho de pilha. Olha para mim e dispara: "Pensa rápido!" me jogando uma suculenta laranja. Sem pensar, mato a criança no peito, como um verdadeiro camisa dez e emendo de prima, na veia, sem defesa e saio correndo pela casa fazendo um aviãzinho sob olhar incrédulo de meu pai.
O leitor deve estar se perguntando agora: dia estranho? Mas estranho por quê? Mas se você for um louco por futebol como eu, vai reparar nas partes em destaque e perceber que elas são um ingrediente para este dia atípico. Um dia diferente, com frio na barriga, onde a paixão reina e o detalhe pode ser decisivo. Afinal, hoje é dia de clássico!
Andre Fidusi é convidado do Meio-de-Campo neste blog.
ESSE CRUZEIRO SO TEM PIPOQUEIRO!!!GALOOOOOOOO
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